A LÍNGUA É O MÚSCULO MAIS FORTE DO CORPO
Exposição Individual - Galeria Leme, São Paulo, Brasil
por Camila Leme
Em seus estudos de anatomia, Fernanda Chieco encontrou algumas vezes esta controversa afirmação. Atraída por sua potencialidade conceitual, a artista produziu desenhos nos quais desenvolve uma narrativa fantástica. Em Catando Moscas, o primeiro e maior desenho do conjunto, um homem e uma mulher, compartilhando uma enorme língua, passam a vida sentados, atraindo moscas com sua língua única. Enquanto desenhava esta obra, Chieco criou os conceitos e as regras para a nova série de trabalhos que surgia.
Na lógica de Chieco, sendo o músculo mais forte do corpo, por que não seria a língua em conjunto com outras línguas forte o bastante para erguer um ser humano? Ou então para criar um campo magnético capaz de levitar um preá? Aqui, as poderosas línguas, que se esticam infinitamente, são velozes, podem se autorregenerar, e servem, inclusive, para catar moscas. A propósito, essa idéia é fundamentada em armadilhas pega-moscas, com o formato de fitas adesivas, contendo feromônios, utilizadas para o controle de pragas. Segundo a artista, a língua humana também exala feromônios, então por que ela não seria, da mesma forma, capaz de capturar moscas?
Chieco é objetiva e todos os elementos de sua obra estão subordinados à sua objetividade: os títulos de seus desenhos relatam exatamente o que está em cena. A cor, usada sempre de maneira econômica, enfatiza, atribui função e dá identidade; o lagarto é verde para não correr o risco de ser interpretado como outro animal. Seus personagens não revelam qualquer emoção. A composição enquadra a cena, sem nenhuma distração; não há nem mesmo indicativos de tempo ou lugar.
A escolha pelo desenho vem em grande medida pelas infinitas possibilidades que oferece. Após experiências com esculturas e diante das muitas limitações, a artista percebeu que o desenho permitiria realizar tudo o que pudesse de imaginar. A maneira como Chieco utiliza o desenho aproxima-se, de certa forma, da linguagem do cinema: a criação de uma narrativa, o desenvolvimento de personagens e, mais especificamente na série Os Catamoscas, o uso de close-ups. A artista desenhou aproximações das cenas como verdadeiros zooms, que mostram detalhes de ações.
Na obra de Fernanda Chieco, regras e conceitos pré-estabelecidos são distorcidos e transformados em universos paralelos, proporcionando ao espectador um caminho de questionamento interessante e raro.